reticenciar
quarta-feira, 16 de julho de 2014
Brancas
sábado, 5 de julho de 2014
o tempo é que dirá
quarta-feira, 15 de janeiro de 2014
Rio
O barulho do rio se misturava com as imagens das árvores exatamente acima de mim. E eu olhava desde o primeiro, até o último galho, o mais alto. O que o sol alcançava e parecia de um lugar diferente dos outros. Eu via o reflexo do sol nas teias de aranha e parecia tão perto que tentava pegar, mas sem sucesso. Apenas parei. Deixei meu corpo, que boiando, fosse levado pela água corrente do rio. Talvez me levasse para onde eu queria chegar. Talvez eu conheceria um mundo que eu sozinha não seria capaz de conhecer.A água refletia nos troncos das árvores. Sorri e pensei que eu ajudava a refletir também. Ajudava na força do rio e em deixá-lo limpo. Em pegar as pedras do fundo e conhecê-las.E o rio me ajudava.Me ajudava a esperar as águas que viriam e me mostrava que tudo seria diferente se eu continuasse ali, mesmo por um segundo. E eu esperei e esperarei. Quem sabe em algum momento as águas mudem. E se mudarem, quero estar de pé, observando-as passarem por mim.
domingo, 1 de abril de 2012
Estrangulados
Era fim de tarde e ainda fazia um pouco de sol, o asfalto ainda molhado da chuva de outono. Sai com meu moletom, chutando as pedrinhas nas poças d’água, sem pensar em muita coisa, apenas com algumas palavras ecoando na minha mente. Tentava me livrar daquela frase, mas ela me cortava, me fazia sangrar. Caminhei sem rumo, enquanto observava os carros que passavam jogando água pra todo lado e as pessoas se espremendo nos muros para não ficarem encharcadas. Percebia as gotas nas folhas das árvores por onde passava, balançava algumas e ficava olhando-as até caírem no chão.
O vento frio batia no meu rosto, e algumas lágrimas caiam junto com as gotas das folhas. Lembrei de quando pensei que não seria fácil, de como eu deveria evitar, de como eu deveria fugir, e lembrei de quando só passei por cima de tudo, quando não me importei se seria difícil ou impossível e só continuei. Continuei e cheguei aqui, me mantive firme, segura, me ergui até quando não tinha mais forças nem pra respirar. E continuei em pé só pra perceber, agora, que não adianta a força que eu colocava pra me manter, sempre há uma outra força, muito maior que a minha, que me derruba. Uma força que até posso nomear, algo como ingratidão, cegueira, falta de percepção, ou seja lá o que isso for. É o que me tira do eixo, da órbita. É a força que me deixa trêmula e faz sumir, o sempre presente, sorriso dos meus lábios, o substituindo só por choros baixinhos, abafados.
Andei algumas ruas e parei num cruzamento. Observei os carros que iam e vinham, os que faziam coisas erradas, os que continuavam sempre certos. Olhei as pessoas, um ou outro cachorro perdido entre o movimento, e a chuva que voltava a cair, me molhando, dando a sensação de estar levando embora tudo o que me levou até ali. Não sabia mais se deveria voltar, ou se ficar ali mais um pouco seria bom. Eram quase inaudíveis os ecos na minha cabeça agora, eles já estavam saindo de onde só eu pudesse ouvir, já estavam no ar, por toda parte. Espalhados por aí, e não queria trazê-los de volta.
Algo me dizia pra esquecer, e acho que foi isso que fiz. Continuei passando por várias ruas, agora prestando atenção nas pessoas que também deveriam estar com ecos em suas cabeças, e achei melhor, dessa vez, evitar e lembrar de como vai ser difícil... Assim, talvez, quando a força que eu tenho aqui comigo for maior e suficiente para me manter em pé, quando essa outra força queira me derrubar eu possa passar por cima de novo e aceitar que vale a pena enfrentar o difícil e o impossível pelo que eu acredito.
sexta-feira, 2 de março de 2012
é
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
mais tarde
quinta-feira, 12 de janeiro de 2012
enquanto sós
Não foi como eu imaginava, mas como ela falou que ia chegar atrasada e já estava a caminho, achei melhor seguir em frente. Entrei sozinha, acompanhada apenas da minha jaqueta marrom, que uso quando desejo impressionar alguém. Na entrada do local duas estátuas recebiam os fregueses, poucas luzes amarelas marcavam o lugar, as pessoas eram apenas penumbras e as paredes completamente revestidas de pôsteres de filmes me chamavam atenção. O rock se misturava com as vozes das pessoas que conversavam, mas era agradável. O lugar era pequeno e fechado, e me sentei à mesa do canto para poder observar a decoração.
Por um momento coisas passavam na minha cabeça e um tipo de frio na barriga me atingiu, não me lembrava mais como puxar assuntos ou fazer elogios. Afundei na cadeira, observei o lugar. A pouca luz não me deixava ver as pessoas com perfeição, mas o que eu podia ver eram grupos de amigos, uns casais e caras olhando para as meninas de outras mesas.
Ela chegou uns quarenta e cinco minutos depois e me senti bem ao vê-la vindo em minha direção, sorri e ela estava linda como sempre. Sentou-se ao meu lado e pedimos algo para comer, ela pediu um suco e sorriu pra mim.
- Parei de beber, esqueceu?
Ri de volta e conversamos coisas sem importância até a comida chegar.
Acho que precisávamos falar sobre tantas coisas, tantas coisas precisavam ser ditas e lembradas que preferi formar desenhos com palitos de dentes. Olhei pra ela, estava tão concentrada em mexer o suco com o canudo que imaginei que ela estava querendo que o silêncio continuasse, assim como eu. Me perguntei quanta coisa cabia naquele silêncio, achei que se falasse alguma coisa poderia estragar tudo, continuei olhando pra ela, que estava decidida em girar o canudo no copo. Imaginei como poderíamos ser felizes, como eu queria tê-la ao meu lado por muito tempo, imaginei como eu tinha que ter falado muitas coisas ao invés de apenas olhá-la e percebi, então, que em meio ao silêncio e um copo de suco, poderia caber uma vida, ou até duas.
Vi os banhos de chuva, as risadas altas ou as abafadas, quem sabe uma estrada, uma praia. Escovas de dente, livros e copos sujos. Abraços, andando de mãos dadas comentando sobre aquele filme no cinema. Talheres, respirações, algumas lágrimas e brigas. A dedicação, o acordar com um beijo na testa e sentir a sensação de ter tudo no mundo. Idas a lugares idiotas, quedas, mordidas ou olhares que expressam tudo.
Mas o silêncio bastava. Ocupava o lugar das palavras que precisavam ser ditas, ocupava o lugar do carinho ou de algum beijo, de uma decisão de querer estar ao lado por muito tempo. Ocupava o lugar das discussões, brigas.
Ela me olhou, e era como se tudo o que eu havia pensado estivesse escrito ali em seu rosto, no seu olhar e, naquele instante, todo o tempo do mundo se estendia diante de nós. Todas as nossas escolhas estariam ligadas, como se nossos caminhos começassem a ser construídos para se cruzarem, fazendo parte um do outro por muito tempo, seguindo a mesma direção.
E então eu não precisava de nada, nem de palavras ou de confirmação. O silêncio cumpriu o seu papel. Eu queria estar com ela.
Dividimos a conta, passamos pelas estátuas na saída e caminhamos lado a lado pela calçada. A puxei para os meus braços e a abracei, aproveitei o momento, sabendo que não sentiria seu toque outra vez.