sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

último né

É quando você senta, e depois de mais de trezentos dias, começa a pensar em tudo o que você fez. Lembra das coisas bobas que você falou, e lembra das pessoas que você ajudou com uma simples palavra. Vê quantas coisas você poderia ter feito, ou quantas coisas poderia ter deixado de fazer. Percebe que abriu mão de coisas, e começa a ver que pode ter valido a pena, ou não. Ri lembrando das bobagens que você fez, das idiotices com seus amigos. Chora ao lembrar quantas pessoas saíram da sua vida também, chora lembrando do que você queria ter mudado, do que você queria que nunca tivesse acontecido,  chora lembrando das decepções, e das perdas.
Ai você começa a ver as chances desperdiçadas, os dias ou semanas que perdeu, começa a ver que mesmo sem notar, você mudou, seus pensamentos mudaram, ou qualquer coisa em você mudou. Percebe que quem tem que ser melhor é você, o ano em si, não vai ser melhor, mais triste ou mais feliz, quem faz isso é você, quem faz as escolhas é você, e quem convive com as conseqüências ainda é você. Percebe que tudo o que você fez foi o que definiu o seu ano, percebe que o que você fez definiu quem você foi ou quem você é, mas percebe também que tudo o que você fez já passou, assim como todos os dias vão passando, assim como todos os anos também vão passando, assim como a vida vai passando e você também vai passando junto com ela. E o bom de passar é que você aprende o que deve ou não fazer, que ao passar, você deixa as coisas ruins pra trás e resgata todas as boas novamente, e acrescenta mais. E então, você começa a querer que o próximo ano seja o melhor, o que te traga as melhores lembranças, sempre espera que o próximo ano seja melhor do que o que passou, deseja que o ano novo, seja realmente novo e traga coisas novas com ele. O bom da idéia de ano novo, é que com isso você realmente acredita em vida nova, em tudo novo, acredita em ser feliz mais uma vez e ser melhor do que você nunca foi, o lindo da idéia de ano novo é que com isso você realmente começa a  acreditar na palavra recomeçar.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

visível

Estranho por eu estar ali parada em frente a uma loja de enfeites de natal, na verdade, toda a rua estava enfeitada, a rua inteira com muitas luzes, parecia que toda a rua estava combinando comigo, combinando com o meu estado de espírito. Eu ali parada, sob o céu estrelado, uma noite fria, porém bonita, magnífica. Eu ali realmente feliz, realmente em paz, pensando em todas as coisas boas que acontecem na minha vida. De repente dois meninos passam correndo, e me arrancam dos meus pensamentos. Aqueles dois meninos pequenos, com seus carrinhos, rindo e brincando, me lembraram de como a vida é simples e bonita, como algo pequeno pode fazer bem, e que eu tinha demorado tanto pra perceber isso. Lá de dentro da loja, a mãe deles os chama, e com a mesma animação que eles saíram, eles voltaram para a loja, com aqueles belos sorrisos no rosto. Estava encantada, via nos grandes olhos verdes do mais velho a felicidade de apenas estar ali, com seu carrinho azul, brincando com o seu irmão, que transparecia a mesma coisa. Achei engraçado quando eles reclamaram com a mãe que queriam continuar lá fora, e apenas alguns instantes após a negação da mãe eles já estavam rindo e brincando com outra coisa. Parecia tão simples seguir aquilo, aceitar o não da mãe, era como ter que aceitar algo que você não queira, mas não deixar aquilo te abalar, e continuar com o sorriso no rosto, se adaptando e aceitando.
Comecei a percorrer toda a rua, e mergulhada em meus pensamentos percebi que chuviscava, mas eu continuava andando, continuava querendo aquela sensação de paz, de liberdade, de vida. Notei que meu casaco azul já estava molhado da chuva, mas me impressionei quando notei que algumas lágrimas estavam se misturando com os pingos de chuva, e que naquele momento tudo parecia mágico, minhas lágrimas eram de felicidade, eram de ter aprendido a lição, eram de tirando todo o resto do passado que me deixavam parada... e naquele momento, eu só tinha vontade de andar, seguir em frente, porque eu sabia que seguir em frente era muito mais bonito do que ficar parada, continuar era muito mais bonito do que esperar, e cada vez mais eu ficava mais feliz, cada vez mais eu tinha a sensação que a chuva estava levando todas as coisas ruins. Tudo era lindo, e não era lindo porque luzes de natal e todos aqueles enfeites ficam lindos com a chuva. Era lindo porque eu queria que tudo fosse lindo, eu queria que tudo fosse bom, eu queria não me importar com as coisas ruins, queria não me importar com o mal que me abalava, e ao não me importar, percebi que ele parou de existir. 

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O amor!

Um tempo atrás conheci uma pessoa. Antes éramos só eu e ele, ou como costumávamos falar: “eu e você”. Começamos a achar que Eu e Você era muito vago e, decidimos nos chamar de “Nós”... O problema que Nós era uma muito pouco, e não fazia sentido.
Decidimos ter um filho.
Passamos algum tempo tentando achar um nome para ele, e como ainda não sabíamos o que era, deixamos para nomeá-lo depois. Pouco tempo depois achamos um nome que combinava com ele: Amor!
Achávamos aquilo lindo, Nós e nosso Amor. No começo, Amor nos deu trabalho, nos deixou noites em claro, passamos por coisas difíceis, mas sabíamos que se fosse por Amor, tudo valeria à pena. E apesar de tudo, Amor sempre estava nos mantendo fortes e juntos.
Com o tempo, Amor crescia, ficava forte e bonito. Não nos deixava quietos, às vezes nos preocupava, às vezes nos fazia chorar. Mas ele sempre ensinava para Nós muitas coisas boas, e assim como todos os outros pais, Nós vivíamos por nosso filho, e queríamos que ele crescesse forte, seguro e que vivesse muitos e muitos anos.
Em dias difíceis, de discussões, Amor sempre falava mais alto. Na verdade, ele gritava, berrava e deixava bem claro que Nós tínhamos que estar sempre juntos, fazendo o melhor um pelo outro. Nunca escondia que iríamos sofrer e teríamos que renunciar muitas coisas, mas que isso iria alimentá-lo, e que se Nós estivéssemos separados, isso não seria possível.
Porém, houve uma época que outros conseguiam falar mais alto que Amor. Nós nunca gostamos deles, mas Desconfiança, Ciúmes, Desapego, Desânimo vinham nos visitar com freqüência. Eram péssimas companhias para Amor, falavam o que não deviam e deixavam nosso querido Amor confuso.
Com Amor confuso, a vida de todos mudou. Começamos a nos preocupar demais com Problemas, e não dávamos a devida atenção a Amor. Amor sempre ficava triste com isso, ele não queria que Nós nos separássemos, mas suas forças para lutar estavam acabando, já não conseguíamos ouvir sua voz.
Amor estava morrendo.
Foi ruim quando Nós desistimos e deixamos Amor sozinho, abandonado. Foi triste ver que depois do tanto que Nós lutamos, nos esforçamos, acabamos jogando tudo fora. Foi péssimo ver que Nós não alimentávamos mais o Amor, foi péssimo ver que Nós não cuidávamos mais dele, ver que Nós não queríamos mais estar juntos. Foi péssimo ver que Nós havíamos morrido. Mas ainda pior que ver a nossa morte, foi ter que ver a morte do Amor.

(Assim como todas as mortes, a morte do Amor trouxe o fim, mas mesmo que ele não esteja entre Nós, sempre será lembrado, e às vezes choraremos ao lembrar. Nunca vai ser esquecido, e vamos saber que ele sempre continuará em nossos corações. Não tem como substituí-lo ou recuperá-lo, mas o tempo nos ajudará a superar à sua perda)