quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

sempre

        Faltava pouco tempo para o Natal e ainda não tinha montado a árvore. Busquei a caixa embaixo da cama, espirrei como sempre da poeira. No ano anterior não me interessei com os enfeites de Natal, mas esse ano queria que tudo ficasse bonito. Estava pesado e abri com cuidado me preparando para correr caso qualquer barata quisesse escapar de dentro da caixa.
        Dentro da caixa tudo estava organizado e me perguntei se tinha mesmo apenas um ano que eu não mexia naquilo, ou se tinha mexido ontem. Ao mesmo tempo em que eu pensava que o ano tinha passado rápido, eu pensava que tinha demorado demais para passar, contando, é claro, quantas coisas tinham acontecido durante esse tempo. E fiz a típica pergunta de final de ano: As coisas estão começando ou terminando?
       Montei a árvore, abri os galhos... Ela estava torta, ri ao olhá-la. Desenrolei os pisca-piscas, era minha parte favorita do Natal, a que eu achava mais linda. Ficaria horas olhando as luzes apagando e acendendo. Passei as luzinhas pela árvore, e antes de colocar os enfeites decidi procurar algum cd legal, mas achei um DVD do James Brown e do B. B. King que havia ganhado muitos anos atrás de um amigo. Coloquei para passar e voltei para a decoração. Pendurei com cuidado cada bolinha e anjinho, pensando já o que faria para a ceia, ou simplesmente se eu teria companhia no Natal esse ano.
     Enquanto decidia o lugar para cada coisa da árvore, liguei para minha mãe, que ficou feliz quando perguntei se poderia passar o Natal com ela, contou mil casos, me chamou para participar do amigo oculto da família e falou que estava com saudade. Estava com saudade dela também. Estava com saudade de tanta coisa, mas algo me dizia que tudo finalmente estava seguindo o caminho certo. Finalmente tudo se ajeitando e ficando em paz novamente. Tudo parecia estar no lugar, menos a árvore, que ainda estava torta. Me afastava para olhar melhor e ria alto.
       Não achava um jeito para colocar as luzinhas na parede e me sentia muito baixinha por não conseguir alcançar os pregos que ficavam perto do teto, mesmo subindo em uma cadeira. O DVD tinha acabado, não sabia mais onde colocar os enfeites, tinha uma prova no dia seguinte e ainda tinha que entregar algumas fotos que não tive tempo de arrumar no dia anterior.  Sentei na cadeira que eu estava subindo e achei melhor decidir o que fazer primeiro.
Escolhi o mais importante: Um banho quente, um bom livro e um bocado de café.  

terça-feira, 5 de abril de 2011

Não há de ser nada

Esqueci de acordar. Esqueci de apagar a luz, de limpar os pés. Esqueci das palavras e dos palavrões.  Esqueci de ler, e de escrever. Esqueci de salvar, de decorar. Esqueci as chaves, e as claves. Esqueci no cais, esqueci do caos. Esqueci o terno, a ternura. Esqueci a massa, esqueci o que se passa. Esqueci a margem, esqueci da imagem. Esqueci a verdade, a liberdade. Esqueci o coro, esqueci o choro. Esqueci o que foi, o que fui. Esqueci o que sou, o que restou. Esqueci do medo, esqueci da fuga. Esqueci de lutar, esqueci de ajudar. Esqueci o que era, e o que poderia ser. Esqueci do terço, e do berço. Esqueci da vida, esqueci de estar viva. Esqueci o ódio, o amor. Esqueci de sentir, de guardar rancor. Esqueci a passagem, a mensagem.  Esqueci o compasso, o abraço. Esqueci.

Esqueci de mim.

Esqueci de te esquecer.