quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

mais tarde

     Ela estava sentada em uma das cadeiras na estação, não havia muitas pessoas, mais ou menos 15h de uma terça-feira e o movimento não era muito grande. Não me aproximei, não podia, mesmo que eu quisesse muito ir e sentar-me ao lado, algo me prendia e fiquei parada olhando os trilhos até onde eles desapareciam na curva.
   Observei todas as pessoas que estavam na estação, uma mulher com uma saia rosa com uma bota marrom até quase os joelhos desceu a escada rolante sem jeito e, quase caiu ao meu lado. Segurava uma sacola grande e parecia pesada, mas achei que ela não gostaria se oferecesse ajuda. Outras três pessoas sozinhas se encontravam em alguns dos cantos da plataforma e outras duas ocupavam mais duas cadeiras ao lado dela.
   Quando eu realmente queria que o metrô passasse rápido, ele demorou mais do que o imaginável. Tentava observar e prestar atenção em qualquer coisa à minha volta para não ir até onde ela estava e pegar em sua mão, mesmo se fosse para não dizer nada, mesmo se fosse pra contemplar o que teríamos pela frente.
    Imaginei alguma desculpa para me aproximar, alguma palavra que fosse suficiente e que fosse maior do que um “eu não posso”, qualquer coisa, um mínimo detalhe que me faria ir até ali livre, sem me preocupar, sem que nada me impedisse. Nem mesmo meus conselhos serviam pra mim, nem mesmo minha coragem me acompanhou. Eu poderia pensar em escapar de todas as coisas que me faziam ficar parada olhando o outro lado, poderia enganar o que me prendia e sentar-me, recolher-me ali ao lado.
      Com o barulho todos levantaram e se aproximaram da linha amarela e algo me fazia acreditar que ela estava cada vez mais próximo, que cada instante eu gostaria mais de tê-la perto, e por um milésimo de segundos, quando acidentalmente olhei para ela e ela vinha na minha direção para ficar ao meu lado, quis muito que o motivo fosse eu e não somente a porta que abriria à nossa frente. Esperamos a porta abrir, uma ao lado da outra, e entramos.
      Metrô vazio, sentei, ainda com meu fone de ouvido e ela sentou um pouco distante. Distante era uma palavra corretíssima, ou não. E mesmo assim continuamos ali, seguindo juntas, na mesma direção, contando apenas com a distância, que era o que ainda nos separava.