sexta-feira, 2 de março de 2012

é

      7h02m. Passo pela porta, andando vagarosamente, querendo ficar.  Entro no elevador e espero, enquanto mais algumas pessoas entram e ficam conversando... Tudo sempre automático, programadas pra falar bom dia. Não respondo, e fico contando os segundos para sair daquele lugar, finalmente chega ao térreo e eu sou a primeira a sair. Acendo o cigarro, e continuo andando...
    Telefone toca, ele me ligando novamente e, dessa vez decido atender. Quero te encontrar, ele me disse, e marcamos em um restaurante vegan na 412 norte. Percebo que cheguei muito cedo, e esse meu vício infernal ainda me atormentava, guardei o cigarro e fiquei quieta, apenas esperando.
    Ele chega, com aquele cardigan azul que eu havia lhe dado, e eu esqueço os meus olhos sobre ele, sobre seus ombros largos e seu sorriso radiante, me olhando. Admirável, tanto tempo depois, tantas lágrimas depois, meu coração ainda bate mais forte ao vê-lo.
     Caindo, rolando, rindo, brigando. Fui embora novamente sabendo que um dia ele ia me ligar me chamando pra ser dele mais uma vez e eu ia aceitar, como sempre aceito. Ia continuar querendo o mistério dele, ia continuar querendo a ignorância e o desapego. Ia continuar com a vontade de voltar pra casa querendo ser de alguém, com a vontade de querer viver novamente e me arrependendo, porque o “viver novamente” sempre me machuca.
     19h02m, chorando. Pego outro cigarro, e que se foda tudo agora. Ou foda-se nada, pois eu sentia que o nada era a única coisa que restava. Odiei-me por estar com aquele cigarro entre meus dedos e o joguei fora. Me acalmei, e voltei para casa junto ao nada.
    Tudo bem, é normal... Isso acontece, homens são idiotas e você também é! É normal. Vamos preparar algo pra comer, porque essa fome vai acabar te matando. Acalme-se, você não tem culpa de ser burra e não ouvir conselhos e você foi lá porque quis. Agora engole o choro e comece a fazer essa comida.
  Ligo o rádio, e pela primeira vez no dia me animo... Uma música do Lenine rolando e eu comendo todos os meus lindos vegetais e engasgando, como sempre. Ligo o computador, mas logo o desligo ao ver quantas vacas ele tinha adicionado no Facebook. Decido ir ler, O Diário de Anne Frank para aquele dia tenso. Paro na parte “... continuo a procurar um meio para vir a ser aquela que gostava de ser, que era capaz de ser...” e fecho o livro, realmente estava cansada.
   Desligo todas as luzes, e me deito. Querendo dormir para acordar com o sol batendo em meu rosto e os pássaros fazendo muito barulho em alguma árvore por aí. Eu levantando rindo, com toda a disposição do mundo, acordando sendo a pessoa mais feliz do planeta. Ou apenas dormir, sem ter nada em mente, dormir... Porque dormir era o que eu mais queria no momento.
   E tão rápido o despertador toca, parecia que eu tinha dormido apenas 15 minutos.  Levanto-me.
      7h02m. Passo pela porta, andando vagarosamente, querendo ficar.  Entro no elevador e espero, enquanto mais algumas pessoas entram e ficam conversando... É tudo sempre automático, programadas pra falar bom dia. Não respondo, e fico contando os segundos para sair daquele lugar, finalmente chega ao térreo e sou a primeira a sair. Não fumarei mais, e com isso na cabeça continuo andando.